Wednesday, December 06, 2006

Hipocrisia, até quando?

"Uma vez que uma mulher se torna mãe, ela será sempre mãe, tenha ou não nascido o seu filho. O filho morto fará parte da sua vida por mais longa que ela seja." O aborto não é definitivamente uma "solução fácil" de um grave problema, mas um acto agressivo que terá repercussões contínuas na vida da mulher."


Portugal, como todos sabemos tem ainda uma lei muito pouco abrangente no que diz respeito à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG).
O nosso legislador, até ao momento ,apenas contemplou três situações na quais o aborto é viável: quando a gravidez representa risco para a vida da mulher ou para a sua saúde; no caso de malformação fetal ou quando a gravidez resulta de violação.

No entanto, mesmo nestes casos, nem sempre é possível recorrer ao aborto, isto porque na esmagadora maioria dos casos os hospitais ou os médicos recusam-se a prestar ajuda às mulheres que se encontram nesta situação.
Isto, claro, a menos que a mulher desembolse um bom punhado de euros. Mais uma vez verificamos que em todos as classes as pessoas têm o seu preço, e aí meus amigos os princípios deontológicos tão acerrimamente defendidos vão claramente pelo "RALO".
Para mim isto é hipócrisia ao seu mais alto expoente.
Depois não fugindo à já conhecida mentalidade tuga escorremos a água do nosso capote para o do vizinho. E aí escudamo-nos na educação sexual ,que deveria ser dada nas escolas, bem como nos serviços de planeamento familiar.
Como todos sabemos a legislação portuguesa prevê de facto a educação sexual. Mas não é menos verdade que a educação sexual,nas escolas, continua a ser prática pouco corrente, isto para não dizer inexistente. No tocante aos serviços de planeamento familiar, no nosso país, eles são sem dúvida prestados de forma gratuita, mas ainda assim o acesso ao planeamento familiar continua, a meu ver, desadequado.
Como resultado desta situação, a gravidez na adolescência em Portugal atinge valores dos mais elevados na Europa (25 em cada 1000 adolescentes).
Segundo dados do Ministério da Saúde: em Portugal são praticados, pelo menos, 20 000 abortos ilegais por ano!

Como consequência de complicações resultantes desses abortos ilegais, todos os anos cerca de 5.000 mulheres são atendidas em hospitais e, nos últimos 20 anos, morreram cerca de 100 mulheres desnecessariamente.
Em virtude desta legislação, restritiva, assistimos à já célebre debandada das mulheres portuguesas para as clínicas espanholas.
Mas, como todos facilmente podemos imaginar, não são todas as mulheres que podem suportar os custos de uma ida a Espanha, ou até mesmo de um aborto ilegal em Portugal.
Para as mulheres mais desfavorecidas socialmente este é um luxo a que definitivamente não se podem dar.
Será que ainda há alguém que, em sã consciência, acredite que uma mulher pratique um aborto de ânimo leve, e que não sofra desalmadamente por isso???
Em Portugal a interrupção voluntária da gravidez é punida até 3 anos de prisão.
Será que não está mais do que na altura de pararmos com esta hipócrisia e dar-mos às mulheres a hipótese de poderem realizar uma IVG ,em condições dignas e sem as culpar pelo acto que estão a cometer??
Não se trata de banalizar o aborto. Trata-se,tão somente,de dar a oportunidade a quem necessita de a ele recorrer , que o possa fazer sem julgamentos públicos e sem criminalização.
Já bem basta a dolorosa decisão que estão a tomar, que direito têm os restantes de ainda a julgarem??
Criminlizar o aborto não reduz o número de abortos. No meu ponto de vista a legalização da IVG evita o sofrimento desnecessário de uma grande percentagem de mulheres, bem como a sua morte.

Em Outubro de 2006 a Assembleia da República, com os votos favoráveis do PS, PSD e BE, a abstenção do CDS-PP e o voto contra do PCP e dos Verdes, decidiu convocar um novo referendo. O Presidente da República já anunciou ao país a data do referendo:será no dia 11 de Fevereiro de 2007.
Seja qual for o resultado, é importante que as pessoas exerçam o seu direito cívico em consciência de tudo o que o tema em análise envolve e acima de tudo SEM HIPOCRISIAS!

Saudações diabólicas.




3 comments:

Alien David Sousa said...

Mais uma vez irei VOTAR SIM! No referendo sobre o Aborto.

Nenhuma mulher faz um Aborto porque gosta.

Gostei do teu texto. É um tema polémico, mas temos de deixar de andar sempre atrás dos outros países.

A forma como as mulheres que o fazem são tratadas é inqualificável.
Já agora um pensamento, se prendem as mulheres e as discriminam...que tal voltarmos para a DITADURA e criar uma força especial para encontrar os Namorados/Maridos/ONe night stand tipos que engravidam as mulheres.
Os homens nunca são punidos. Engraçado.

Os senhores na Assembleia da República cagam sentenças sobre tudo. Aqui, deviam pensar 10 vezes. É o corpo de uma mulher, é a sua saude que estão em risco quando decide fazer um Aborto. E quando o decide...sabe dos perigos que corre por viver num país como Portugal.

Metam na cabeça, NENHUMA MULHER GOSTA DE FAZER UM ABORTO!

Mas isto sou só eu.

Ana said...

vou ser muito sincera. eu nao estou de acordo com a "liberalização" do aborto.
axo que temos que pensar nao serve como metodo contraceptivo, e que se trata de um ser vivo.
sei que nao sera uma decisao mto facil, mas acredita que para algums mulheres nao sera assim tao dificil...
axo k na lei estao previstos os casos que o aborto sera talvez a unica soluçao, MAS é preciso "desburocratizar", como tudo em Portugal leva uma eternidade para ser feito, e nos casos previstos lei será sim, sem alguma duvida, uma decisao mto dificil para a mulher.
e nao penses que andamos sempre atras dos outros paises...nem sempre sao o melhor exemplo!!
sei que este assunto torna-se extremamente pessoal, mas n pude deixar de comentar o teu post.

Joana said...

Por falar em hipocrisias, leiam alguns posts que estão aqui: http://bloguedonao.blogspot.com